Síntese: Movimento Iluminista

abril 13, 2017

Síntese: Movimento Iluminista - Felipe Machado

Entre os séculos XVII e XVIII, com a expansão e proliferação do sistema capitalista e da industrialização, a burguesia europeia, proprietária dos meios de produção, das matérias-primas e dos produtos, isto é, do sólido poder econômico e financeiro, ampliou a sua influência sociopolítica e afirmou-se como camada social dominante, enquanto o racionalismo imperava no continente europeu. O intenso desenvolvimento científico e tecnológico obtido durante a Revolução Industrial contribuiu para a difusão de ideias contrárias as que prevaleciam nas monarquias absolutistas que instituíram práticas econômicas, políticas e sociais do Antigo Regime, contrárias aos interesses burgueses e que inspiraram os mais importantes acontecimentos históricos, como a Revolução Francesa, com os seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, nos movimentos de independência das colônias americanas e inclusive no Brasil, com a eclosão da Inconfidência Mineira.

A intensa valorização ao cientificismo, ao humanismo e ao racionalismo, difundidos desde o Renascimento Cultural, no século XV, contribuiu para o intenso desenvolvimento técnico e científico para contra argumentar as explicações incoerentes da Igreja Católica, que ainda exercia poderosa influência na Europa, por este motivo, o século XVIII, foi denominado como o Século das Luzes. O seu principal difusor, o filósofo inglês Francis Bacon era empirista e defendia que o conhecimento impulsionava o desenvolvimento em todos os aspectos e os mais destacados cientistas deste período foram Isaac Newton, comprovando a força que a gravidade exercia e o francês René Descartes, que impulsionou o desenvolvimento das expressões algébricas, conteúdo de fundamental importância para a Álgebra.

Os valores fundamentais defendidos pelos filósofos iluministas são a liberdade de expressão, tolerância religiosa e filosófica, liberalismo econômico, ou seja, a não interferência do Estado na economia, essencial para o funcionamento do sistema capitalista e a igualdade jurídica, valores que beneficiam a burguesia, por este motivo, valores burgueses, prevalecendo a igualdade de direitos e não a igualdade socioeconômica.

O Iluminismo é um movimento filosófico constituído por pensadores burgueses e aristocratas, porém ambos buscam o convencimento racional da sociedade, exercitando e divulgando a razão e a ciência e desenvolvendo o processo de ilustração, isto é, a capacidade intelectual do ser-humano. Os filósofos iluministas baseiam-se no estudo da natureza e do ser-humano, na história e na ideia de progresso.

Destacaram-se os filósofos iluministas John Locke, Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Diderot, D´Alembert, Immanuel Kant e Adam Smith. O filósofo inglês John Locke, considerado o “O Pai do Iluminismo” defendia o fim do absolutismo monárquico, criticava o mercantilismo e os benefícios concedidos ao clero e a nobreza e defendia a existência de uma Constituição para limitar o poder real, a propriedade privada e a liberdade de expressão. Suas ideologias foram responsáveis pela eclosão da Revolução Gloriosa. O iluminista francês Voltaire acastelava a liberdade de expressão e especialmente os direitos que beneficiavam exclusivamente a burguesia, porém, acoimava a Igreja Católica, a inflexibilidade religiosa e o poder demasiado dos monarcas absolutistas, fundamentados especialmente na sua obra-prima “Dicionário Filosófico”.

O suíço Jean-Jacques Rousseau, autor da obra “O contrato social” defendia a criação e existência de um Estado moderno e democrático com a igualdade jurídica de todos os cidadãos e criticava os excessos racionalistas e os vícios sociais, como a pratica da corrupção, tornando-se defensor da pequena e média burguesia, pois os seus ideais favoreciam os grupos sociais menos abastados, presentes inclusive, nos ideais revolucionários franceses e que acarretaram na queda do Antigo Regime na França. O Barão de Montesquieu foi um filósofo e jurista francês que defendia a separação dos três poderes estatais, isto é, a independência do Executivo, Legislativo e Judiciário, porém, as suas instituições deveriam fiscalizar juridicamente um ao outro, portanto, para Montesquieu, existem três formas básicas de governo, o monárquico, no qual a nação é comandada pelo monarca por meio das leis, isto é, uma monarquia parlamentarista, o republicano, na qual a administração do estado é exercida por várias pessoas e o despótico, no qual o território nacional é comandado por um ditador através do autoritarismo.

Os pensadores franceses Diderot e D’Alembert organizaram uma coleção de 35 volumes intitulada Enciclopédia, que continha o conhecimento científico europeu acumulado até o século XVIII, difundindo o cientificismo, o racionalismo, o humanismo, isto é, as ideologias e os pensamentos iluministas ás sociedades europeias ocidentais. Temendo a sua propagação, a Igreja Católica e os governos absolutistas proibiram a sua leitura em seus respectivos territórios. A difusão dos conhecimentos iluministas contidos na Enciclopédia favoreceu a independência das sociedades coloniais, pois incentivavam a independência do Estado em relação a Igreja Católica.

Os princípios iluministas fundamentados na liberdade foram denominados como princípios liberais. Diversos monarcas absolutistas adotaram práticas liberais em seus governos para reduzir o descontentamento popular como o realizado pelos monarcas Frederico II da Prússia e Catarina II da Rússia. Esse tipo de prática governamental ficou conhecido como Despotismo Esclarecido, pois os monarcas adotavam medidas liberais, porém ainda exerciam práticas autoritárias, isto é, absolutistas. As ideologias iluministas eram contrárias ao mercantilismo, sistema socioeconômico do Antigo Regime e a burguesia capitalista reivindicava maior liberdade econômica, sem a intervenção estatal na economia e a fisiocracia é uma delas, teoria francesa que afirmava que as atividades econômicas relacionadas a natureza eram a única forma para obter riquezas. O economista e filósofo escocês Adam Smith foi o responsável pela criação da teoria da Escola Clássica, segundo qual, o trabalho exercido pelo processo da divisão do trabalho gerava a riqueza. Contrário ao mercantilismo, Adam Smith defendia a divisão internacional do trabalho, o fim dos impostos alfandegários aos produtos importados e a lei capitalista da oferta e da procura, beneficiando a burguesia industrial.

O intelectual alemão Immanuel Kant foi o principal representante do Iluminismo na atual Alemanha, antiga Prússia. Em sua obra “O que é ilustração”, Kant sintetiza a possiblidade do ser-humano em guiar-se por sua própria razão. O ser-humano, como ser dotado de inteligência é o centro da filosofia kantiana. Seus estudos realizam um exame crítico da razão e para Immanuel Kant, há duas formas básicas para o ato de conhecer: o conhecimento empírico, posterior ao experimento e o conhecimento puro, anterior a experiência. Os juízos universais e necessários são classificados como juízo analítico e juízo sintético e os distinguindo em três subcategorias, o juízo analítico, sintético a posteriori e sintético a priori. Segundo Kant, o ser-humano possui estruturas que possibilitam a experiência e o entendimento, denominado como apriorismo, então, é possível concluir segundo este pensador, que o conhecimento é o resultado da interação entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido.

Portanto, o Iluminismo constituiu um movimento cultural que exerceu forte influência na Europa Ocidental no século XVIII e acarretou em amplas transformações no pensamento deste período, em acontecimentos históricos de extensa influência até a contemporaneidade, como a eclosão da Revolução Francesa em 1789, devido a insatisfação popular ao governo de Luís XVI e sua esposa, Maria Antonieta, na Independência dos Estados Unidos da América e influenciando, inclusive em documentos jurídicos e históricos, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ao Código Napoleônico e ás Constituições de variadas federações, inclusive, a Constituição Brasileira é de cunho iluminista, pois baseia-se na ética e na liberdade, princípios democráticos bastante difundidos no movimento iluminista.